Como é a Engenharia de Energia?

25 março, 2012 0 comentários
“O mundo técnico, que a Ciência Clássica contribuiu para criar, necessita, para ser compreendido, de conceitos muito diferentes dos desta Ciência"

(PRIGOGINE, Ylya & STENGERS, Isabele. A nova Aliança.)

O QUE VOCÊ IRÁ ESTUDAR
O momento atual é caracterizado por um cenário de profundas e significativas transformações no mundo, em especial no âmbito científico. Muito se tem falado em novos paradigmas da ciência, sem que, muitas vezes, se detenha cuidadosamente a refletir sobre o seu verdadeiro significado, a sua extensão e as suas consequências. A Universidade, por ser o "habitat" natural das discussões acerca do conhecimento, não pode se furtar a refletir sobre a questão e também de se posicionar ante as perspectivas que se colocam. Um dos aspectos mais importantes, em debate no "front" científico na atualidade, refere-se ao esgotamento da abordagem da ciência tradicional para lidar com temas complexos, cujo trato, devido às suas consequências para o homem contemporâneo, torna-se imprescindível para a sociedade atual.

O "atomismo" da abordagem cartesiana já não dá conta de importantes temas emergentes, que, devido à sua complexidade intrínseca, não são devidamente incorporados. Começam a surgir, no meio científico, terminologias que decorrem da busca de alternativas para superar tal barreira, como são os casos de: abordagem integradora; visão sistêmica; multi, inter e transdisciplinaridade.

Nesse contexto, vêm ocorrendo, nos últimos anos, profundas discussões em todo o mundo sobre a necessidade de mudanças nas concepções do ensino da engenharia. A recém-editada LDB, concebida nesse cenário, traz como consequência as novas diretrizes curriculares para o ensino da engenharia - Resolução 11, datada de 11 de março de 2002, que, em seu artigo 3º, preconiza:

"O Curso de Graduação em Engenharia tem como perfil do formando egresso/profissional o engenheiro, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a absorver e desenvolver novas tecnologias, estimulando a sua atuação crítica e criativa na identificação e resolução de problemas, considerando seus aspectos políticos,econômicos, sociais, ambientais e culturais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade".

Não se trata mais, como fica evidenciado, do perfil tradicionalmente entendido como pertencente aos engenheiros. A maioria dos aspectos das demandas, hoje colocadas para o novo perfil do engenheiro, não são tratáveis adequadamente pelos fragmentados perfis de formação tradicional da área. Citam-se, a título de exemplo, alguns aspectos desse novo perfil, que não faziam parte dos esforços desenvolvidos para a formação de engenheiros e que hoje se colocam como imprescindíveis: a importância crescente do compromisso social da Engenharia; a necessidade do comprometimento da Engenharia com o desenvolvimento sustentável; o espírito empreendedor e cooperativo do engenheiro.



Pode-se considerar que, em toda a evolução da humanidade, as inovações tecnológicas desenvolvidas, até a era atual, objetivaram, em última instância, assegurar o conforto humano. A evolução industrial foi, sem dúvida, um dos fenômenos que caracterizou de forma mais marcante a evolução da sociedade. Seus reflexos são extremamente importantes nas esferas política, econômica e social, tendo sido, ao mesmo tempo, influenciadora e agente decisivo no processo de desenvolvimento das ciências como um todo.

Necessário se faz lembrar, entretanto, que os recursos que alimentam nosso conforto não são inesgotáveis. Não se consegue conceber um único processo que não seja suportado por uma transformação energética. Isso fez com que o consumo de energia viesse aumentando em todos os níveis nos dois últimos séculos, sem a devida reflexão sobre o significado do que seja um desenvolvimento sustentável. A Civilização atual alcançou um significativo grau de evolução à custa do desenvolvimento de sua capacidade de apropriação e do uso de energia para suportar as atividades sócio-econômicas.

A energia é, portanto, um bem fundamental para a sobrevivência do homem no planeta Terra. Em nível mundial, o consumo total de energia primária de todas as fontes deverá crescer cerca de 60% entre 1997 e 2020 e triplicar até o final deste século, conforme o último relatório da IEA - International Energy Agency.

Segundo ESTEVES (1995), duas sérias questões que se colocam para o Homem contemporâneo - o problema ambiental e a elevação das dificuldades de suprimento energético - são faces de uma mesma moeda. Segundo o autor, de acordo com a Segunda Lei da Termodinâmica:

"São exatamente as elevadas taxas de consumo energético, que permitem a intensificação das atividades humanas na superfície da Terra, que causam, por sua vez, a aceleração do processo de "entropização" do planeta (degradação ambiental). Este processo será tanto mais rápido quanto maiores forem as velocidades com que ocorrem as atividade...".

ESTEVES, Otávio de Avelar. Análise Exergética da Produção do Etanol da Cana-de-Açúcar: Avaliação do Balanço das Disponibilidades Exergéticas da Produção do álcool Etílico a Partir da Cana-de-Açúcar, Envolvendo Desde a Produção Agrícola, até a Fase Industrial, Belo Horizonte, Dissertação de Mestrado, Curso de Ciências e Técnicas Nucleares, UFMG, 1995.

O problema da energia e do desenvolvimento sustentável, como visto, transcende os aspectos puramente técnicos e científicos clássicos, adquirindo profundas conotações sociais, políticas e econômicas. Por isso, vê-se emergir paulatinamente a necessidade de um profissional apto a entender os processos de forma integrada e sistêmica, a desenvolver e a utilizar técnicas relacionadas à sustentação energética da produção e da disponibilização de bens e serviços de interesse da Sociedade.
O Curso de Engenharia de Energia destina-se a formar profissionais comprometidos com o desenvolvimento humano, capacitando-os a ter uma participação efetiva na formulação de políticas públicas para o setor de energia, para compatibilizar o suprimento energético com a preservação ambiental. O curso deverá propiciar uma formação que permita ao graduado ocupar um espaço de trabalho emergente, não coberto pelas modalidades tradicionais de engenharia, mas um profissional da área da engenharia que saiba transitar entre tecnologias relacionadas à energia, hoje dispersas em variadas modalidades da engenharia: elétrica, química, mecânica, nuclear, etc.

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